Por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul? A meteorologista Ana Maria explica
O Rio Grande do Sul está enfrentando um novo evento extremo de chuva nesta semana, com previsão de acumulados superiores a 200 mm, enchentes e alagamentos. Entenda a configuração da atmosfera.

Como alertado pela Meteored | Tempo.com ao longo dos últimos dias, o Rio Grande do Sul está enfrentando um período de chuvas extremas, com fortes tempestades e volumes de chuva torrencial que deverão causar alagamentos, enchentes e um rastro de destruição. De fato, a chuva de granizo vem causando estragos em toda a fronteira Oeste do território gaúcho.
PEDRAS DE GELO ️ Santana do Livramento registrou estragos causados por queda de granizo no início da noite desta segunda-feira (16). Conforme a Defesa Civil da cidade, pelo menos 80 residências tiveram o telhado danificado após o evento climático. pic.twitter.com/jUbx34PmFM
GZH (@gzhdigital) June 17, 2025
O índice de previsão extrema (EFI) está disparado sobre o Rio Grande do Sul entre hoje (17) e quinta-feira (19), indicando que a chuva extrema deve permanecer sobre o estado ao longo dos próximos dias. Em resumo, este índice nos mostra o quão diferente a previsão do tempo é da climatologia - aquilo que ocorre normalmente na região.
Valores acima de 0,8 - em laranja e vermelho - indicam um evento extremo: entre os 1% mais intensos para a climatologia da região.

A população precisa estar em alerta e acompanhar as orientações da Defesa Civil de cada região em busca de abrigo seguro. Mas, afinal, por que está chovendo tanto? Confira agora a dinâmica da atmosfera por trás desse episódio.
Baixos níveis da atmosfera
Em superfície temos o processo de formação de uma frente fria, onde uma área de baixa pressão atmosférica está se estendendo sobre todo o território gaúcho e formará um ciclone no decorrer desta terça-feira (17). Esta baixa pressão está canalizando a umidade sobre a região.

No nível de 850 hPa (nível de pressão atmosférica correspondente à altura de 1,5 km, aproximadamente) temos a atuação do Jato de Baixos Níveis (JBN): núcleo de vento intenso que ocorre a leste da Cordilheira dos Andes de norte para sul, que funciona como uma esteira transportadora de umidade e calor.
O conteúdo de umidade transportado por este tipo de sistema é tão grande que é cientificamente definido como um ‘rio atmosférico’, e pode ser visto no mapa abaixo. Umidade e calor em baixos níveis são os principais ingredientes para a convecção (chuva).

Enquanto isso, no Brasil central, temos a atuação de uma área de alta pressão atmosférica, que dificulta a formação de nuvens e chuva, uma vez que o ar é ‘empurrado para baixo’ - processo contrário da formação das nuvens. Esta alta pressão ajuda a estacionar a chuva no Sul.
Divergência de massa em altos níveis
Em altos níveis, entre 300-200 hPa (cerca de 12 km de altura), também temos núcleos intensos de ventos, os Jatos de Altos Níveis (JAN). O cenário atual nos mostra ‘divergência’ na saída do Jato Subtropical sobre o Rio Grande do Sul, representado pelo afastamento das linhas do vento na imagem abaixo.

A atmosfera é governada por diversas leis físicas e uma delas é a lei de conservação de massa. De uma forma simplificada, ela nos diz que não podemos ter ‘fuga’ de massa (neste caso, a massa é o ar) de um ponto sem existir um movimento compensatório para repor a massa neste ponto.

Então a divergência do ar em em altos níveis induz dinamicamente o levantamento do ar do ar em superfície, onde o movimento compensatório que surge para repor a massa em altos níveis é o gatilho para a formação das nuvens.
Como o ar que está sendo levantado da superfície é aquele ar quente e carregado de umidade, transportado pelo JBN, a convecção é fortalecida. Essa região de divergência em altos níveis dá o formato de “V” da convecção, que pode ser visto na imagem de satélite no início do texto.